#PraCegoVer Foto horizontal: banner do Arquitetando Inclusão com fundo em amarelo. No canto superior esquerdo 4 heptágonos com os símbolos das deficiências: física, visual, auditiva e intelectual e mental. No canto inferior esquerdo o logo do Arquitetando Inclusão: ilustração dos tipos de deficiência dando forma a uma pessoa. No centro a frase: "o valor que os colaboradores com Síndrome de Down podem agregar às organizações". No canto superior direito a imagem de pessoas com Síndrome de Down: um jovem rindo, um casal de jovens rindo e um senhor de óculos rindo.
Sempre acreditei nos benefícios da inclusão nas organizações.
Me parece evidente a mudança que essas contratações proporcionam no ambiente de trabalho, mental e comportamentalmente falando.
Tive que adaptar o pensar, a comunicação e o comportamento para receber pessoas com as mais diversas características, que fogem das “usuais” – não gostei muito da colocação dessa palavra, mas foi a que me ocorreu para me expressar.
Provocada por essas mudanças fui obrigada a me desacomodar, a sair do “usual”, a voltar a pensar, a modificar minha forma de comunicação e o meu comportamento.
Talvez, seja por essa “provocada da mudança” que o foco da inclusão recaia sobre os desafios e não sobre o valor que essas pessoas podem agregar às organizações.
Com base nesta conclusão, direciono o texto dessa quarta-feira para o valor implícito da presença de pessoas com síndrome de Down no ambiente de trabalho. Para isso, fui atrás do consultor de estratégia e transformação organizacional, Guilherme Bcheche.
Antes de apresenta-lo, gostaria de fazer uma pergunta.
Você já ouviu falar no Instituto Alana?
Pois bem, o instituto foi criado em 1994 em São Paulo e possui como missão “honrar a criança”. Para tanto, reúne projetos cujo principal objetivo é mobilizar a sociedade.
Um dia, lendo o jornal, membros do instituto viram uma matéria sobre a empresa Walgreens, rede de farmácias americana, que relatava como mais produtivo, o seu centro de distribuição que contratava funcionários com deficiência intelectual, especificamente, autistas.
Da leitura surgiu o questionamento: será que as pessoas com deficiência intelectual, neste caso, síndrome de Down, influenciam positivamente o ambiente de trabalho?
Foi em busca desta resposta que procuraram a McKinsey & Company. (www.mckinsey.com)
A McKinsey é uma consultoria, mundialmente conhecida e consagrada pelo trabalho consultivo que desenvolve para empresas, na resolução de problemas complexos.
O Guilherme Bcheche foi o Gerente de Projetos escalado para “responder” a pergunta do Instituto Alana, investigando de forma global as possíveis relações entre pessoas com síndrome de Down e o ambiente corporativo.
A pesquisa durou 3 meses e envolveu mais de 30 empresas presentes no Brasil e no exterior, que trabalhavam com a contratação de pessoas com esta síndrome, além de especialistas relevantes, brasileiros e estrangeiros, bem como, fundações americanas, canadenses, australianas e espanholas, que desenvolviam um trabalho específico para o tratamento destas pessoas.
As primeiras evidências revelaram que algumas características relacionais, das pessoas com Down “amenizavam” situações antes vistas como complexas e difíceis para as lideranças.
E quais seriam estas características e suas consequências quando inseridas no ambiente de trabalho?
Baseado no Índice de Saúde Organizacional – “habilidade de uma organização alinhar-se, executar e renovar-se mais rapidamente que seus concorrentes, para sustentar um desempenho excepcional ao longo do tempo” (Guilherme Bcheche) – desenvolvido pela McKinsey e aplicado em empresas interessadas em medir a saúde dos colaboradores no ambiente corporativo, que a consultoria fundamentou os dados coletados em duas das empresas pesquisadas: Droga Raia e McDonald’s.
Nas unidades da Droga Raia e do McDonald´s aplicaram-se questionários, com perguntas baseadas no Índice de Saúde Organizacional (pesquisa quantitativa), e realizaram-se grupos focais compostos por pessoas com deficiência, pais e representantes das empresas (pesquisa qualitativa).
Nas pesquisas quantitativas, aplicadas nas lojas remotamente, não foi mencionado o tema síndrome de Down.
É importante compartilhar, que este índice foi utilizado em outras pesquisas realizadas pela McKinsey, aplicadas nas empresas, que constataram a relação direta entre o aumento da saúde organizacional e a melhora do desempenho dos colaboradores.
Logo, este mesmo caminho foi utilizado, porém para comprovar que o Índice de Saúde Organizacional poderia ser positivamente afetado pela presença de pessoas com síndrome de Down.
A pesquisa confirmou que as unidades da Droga Raia e do McDonald’s, que possuíam a inclusão de pessoas com síndrome de Down, apresentavam melhor saúde organizacional em relação às demais, que não possuíam.
Ou seja, as características típicas das pessoas com síndrome de Down – comunicação direta, manifestação empática, vínculo afetivo, memória recente restrita e comportamento espontâneo – geravam impacto positivo na saúde das empresas, ou seja, melhoravam a administração de conflitos, a paciência e tolerância, desenvolviam sentimentos de empatia e a estabilidade emocional em ambiente sob pressão.
Não restavam mais dúvidas!
Além do valor explícito da presença destas pessoas, havia o valor implícito, que contribuía diretamente para o aumento da saúde organizacional, que por sua vez, conforme pesquisas já realizadas pela McKinsey, “impulsiona o desempenho dos colaboradores”.
“Este foi o projeto mais especial que realizei dentro da consultoria. A coisa passou a correr no meu sangue…acho que essa é uma das potências que as pessoas com síndrome de Down têm, que é conseguir alavancar a emoção. Eu acredito muito nisso!
Na potência que a emoção tem para gerar mudanças, para humanizar os espaços de trabalho. Foi um trabalho lindo, que guardo com muito carinho” (Guilherme Bcheche).
Acho que não há mais o que ser dito, além do meu MUITO obrigada ao Guilherme!
Aproveito para deixar registrada a minha recomendação: empresas, contratem a saúde organizacional de vocês 🙂
E se você quiser ler mais sobre os resultados de tanta dedicação, acessa o link: http://melhoresamigos.org/pdf/Paper_Sindrome_Down_PORT-2.pdf
E quando tiver um tempinho, dá uma acessada no site do Instituto Alana: http://www.alana.org.br
Até a próxima! 😉
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