A pauta saúde mental ganhou considerável relevância a partir da pandemia. Segundo a ONU, o número de pessoas com sofrimento mental nesse período aumentou 25%.
Chocante, né?!
Desde 2001, com a aprovação da Lei nº 10.216, de proteção e direitos de pessoas com
transtornos mentais, algumas coisas mudaram por aqui. A lei, ou também chamada de
Reforma Psiquiátrica, foi um marco na luta antimanicomial e um divisor de águas na forma como a Saúde Mental era vista em nosso país.
Claro, muita coisa ainda precisa melhorar, mas a partir desse momento ficou claro a
importância da participação das famílias no tratamento e a proteção contra qualquer forma de abuso aos pacientes – resgatando assim, a dignidade dessas pessoas.
Ou seja, a intervenção psiquiátrica foi repensada e ganhou forma uma atuação
multiprofissional, priorizando a convivência familiar, comunitária e os direitos sociais do
indivíduo. Podemos considerar uma mudança de olhar. O foco deixou de ser a doença e passou a ser as necessidades individuais.
Outra contribuição importante da lei foi o processo de reinserção social. Em função do foco ser a saúde, os tratamentos objetivavam a reintegração da pessoa e não mais o seu isolamento – a participação social era vista como uma forma de resgate da saúde mental. Cuidar e tratar o ser humano com a finalidade da reintegrá-lo socialmente.
Nessa linha do tempo, não posso deixar de citar a criação do primeiro Centro de Atenção Psicossocial em 1986.
Mas vamos lá, qual a diferença de Transtornos Mentais e Deficiência Psicossocial?
Os Transtornos Mentais são considerados síndromes caracterizadas por perturbações
clinicamente significativas na cognição, no emocional e no comportamental de um indivíduo, podendo acarretar limitações momentâneas ou déficits intelectual permanentes.
Quem se encontra nessa situação pode depender de medicação e intervenções
multiprofissionais para conseguir manter a sua qualidade de vida.
Já a Deficiência Psicossocial trata-se de uma sequela de Transtornos Mentais.
Atenção! Nem todos os Transtornos Mentais são deficiência.
Esta condição ocorre quando uma pessoa avaliada com Transtorno Mental, já em situação de controle, ou seja, medicada e sob acompanhamento multidisciplinar, apresenta sequela ou prejuízo às funções mentais que limite o seu exercício em igualdade de participação com as demais pessoas.
Como é identificado uma Deficiência Psicossocial?
Um conjunto de fatores ajudam os médicos a identificarem quando uma pessoa possui uma Deficiência Psicossocial. Serão destacados alguns aspectos, mas antes, ressalto que o diagnóstico nem sempre é uma tarefa simples, bem pelo contrário, necessita de profissionais habilitados(as) e tempo de caso com o paciente:
Avaliação Biopsicossocial.
Identificação de limitações, ou sequelas.
Aspectos transitórios ou permanentes.
Grau de impacto na funcionalidade do indivíduo.
Segundo Carmen Vera Passos Ferreira, Terapeuta Ocupacional, pioneira nos processos de inclusão para pessoas com Deficiência Psicossocial em Porto Alegre, na instituição Geração POA:
“Sem dúvida é um conceito em construção, que confunde tanto alguns profissionais da saúde, como os envolvidos nas empresas. É preciso que se faça uma distinção entre a deficiência intelectual, que ocorre em decorrência de um prejuízo cognitivo, da deficiência psicossocial, que se estabelece os transtornos mentais graves e persistentes trazem dificuldades no cotidiano destas pessoas.”
Algumas das principais Deficiências Psicossociais são: Esquizofrenia, Depressão, Transtorno Afetivo Bipolar e, mais recentemente, Transtorno do Espectro de Autismo (2012).
Agora vamos falar de acessibilidade?
A acessibilidade e as necessidades individuais de uma Pessoa com Deficiência Psicossocial são fatores importantes a serem observados para uma inclusão assertiva, pois a empresa precisa entender, respeitar e apoiar o seu colaborador(a).
Um dos principais pontos que trago à reflexão é a flexibilidade de jornada, para que as pessoas possam manter seus atendimentos clínicos ou terapêuticos. Por vezes, as consultas e/ou presença nos grupos de apoio são fundamentais para sustentar o quadro clínico estável.
Por isso empresa, facilitar essa rotina é inclusão. Flexibilidade não significa tolerar desorganização, atrasos imotivados e demais posturas inadequadas. Combinações de rotina é um ponto de partida para garantirmos a compreensão e o respeito quanto ao funcionamento da empresa e da pessoa.
Falando nisso, uma das recomendações que faço às empresas que atendo na Inclusão de Pessoas com Deficiência é cogitar uma carga horária reduzida (6h/diárias ou 40h semanais).
E antes que você pense, “mas inclusão não é tratarmos todos(as) como iguais?”
Calma, eu explico! Pessoas com Deficiência Psicossocial, na maioria dos casos, utilizam
medicação controlada e, por isso, é importante estar atento à jornada de trabalho – para que os efeitos do medicamento não prejudiquem o desempenho do(a) colaborador(a).
De forma complementar, tratar todos(as) como iguais é promover a inclusão, desde que seja levada em conta as diferenças existentes, ou equidade, e seja dada a acessibilidade necessária para que a pessoa tenha a mesma condição que os(as) demais colegas.
Por fim, é de suma importância explicar objetivamente as atividades, a rotina de trabalho, e alinhar expectativas. Eleger um padrinho, ou uma madrinha para acompanhar os processos iniciais de adaptação tendem a ser uma estratégia de sucesso.
Faça checkpoints diários ou semanais das entregas, entenda o sentimento do colaborar(a), forneça feedbacks.
E aí?! Gostou dessa matéria? Se houver alguma dúvida basta deixar nos comentários. Terei um imenso prazer em trocar experiências.
SEJA UM ARQUITETO DA INCLUSÃO!
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